A Mensagem Maior Vivida com Jesus e Kardec (*)
Jorge Hessen |
Estimado Chico Xavier; viemos de São
Paulo, com dois objetivos:
- O primeiro, trazer até você o abraço
carinhoso de todos os nossos companheiros da USE, no momento em que você se
encontra às vésperas de completar 50 anos de atividade mediúnica, na Seara do
Mestre;
- E, em segundo lugar, levar conosco a sua
mensagem a nossos irmãos de ideal que vibram amorosamente em sua direção.
Assim sendo, caro Chico, por ordem
perguntaríamos:
107 – Processo
de Unificação
P – Como deverá agir o dirigente espírita,
no Centro Espírita, para colaborar com o processo de unificação das sociedades
espíritas?
R – Não tenho qualquer autoridade para
tratar do assunto, com a importância que o assunto merece. Creio, porém, que os
companheiros responsáveis pela divulgação da Doutrina Espírita estarão em rumo
certo, conduzindo a idéia espírita co coração da comunidade, envolvendo o
conhecimento superior no trabalho, tão intenso quanto possível, do amor ao próximo.
O serviço aos semelhantes fala sem palavras e, através dele, os sentimentos se
comunicam entre si.
108 – Espiritismo
e Comunicação de Massa
P – Como devemos compreender a divulgação
da Doutrina Espírita, em face das modernas técnicas de comunicação de massa?
R – Admito seja nossa obrigação servir
sempre à Causa do Bem de Todos, formando, assim, o preciso ambiente para que se
manifeste a colaboração dos Espíritos Superiores. No caso, lembro-me do
trabalho da aviação; sem aeroporto conveniente, o avião não encontra pouso
seguro. Se o espírito encarnado não colaborar no bem, será muito difícil o
intercâmbio com os Espíritos Elevados.
109 – Divulgação
Doutrinária
P – Como favorecer a cooperação dos
Espíritos Superiores na planificação das idéias de propaganda da Doutrina
Espírita?
R – A resposta será mesmo: estudar sempre,
com a aplicação dos ensinamentos nobres que venhamos a colher. Nesse sentido,
sempre noto que o diálogo entre grupos reduzidos de estudiosos sinceros,
apresenta alto índice de rendimento para os companheiros que efetivamente se
interessam pela divulgação dos princípios Kardequianos.
110 – Unificação
da Doutrina Espírita
P – Por fim, caro Chico; gostaríamos de
levar sua mensagem aos nossos irmãos da USE que prestam sua colaboração, em
várias áreas de trabalho que o Centro Espírita nos oferece.
R – Caro Amigo, o seu desejo muito me
honra, mas sinceramente, a meu ver, não temos qualquer mensagem maior que o
convite à divulgação e ao conhecimento da Doutrina Espírita, vivendo-a com
Jesus, interpretada por Allan Kardec. Penso que, nesse sentido, deveríamos
refletir em unificação, em termos de família humana, evitando os excessos de
consagração das elites culturais na Doutrina Espírita, embora necessitemos sustentá-las
e cultivá-las com respeitosa atenção, mas nunca em detrimento dos nossos irmãos
em Humanidade, que reclamem amparo, socorro, esclarecimento e rumo.
Integrar-nos na vida comunitária, vivendo-lhe as necessidades e as lutas, os
problemas e as provas, com a luz do conhecimento espírita, clareando atitudes e
caminhos; para nós, a meu ver, deveria ser uma obrigação das mais simples. Não
consigo entender o Espiritismo, sem Jesus e sem Allan Kardec para todos, com
todos e ao alcance de todos, a fim de que os nossos princípios alcancem os fins
a que se propõem. Não conseguindo pensar de outro modo, peço a Jesus a todos
nos esclareça e abençoe.
(* - Entrevista
ao Jornal Unificação, de São Paulo/SP, e publicada em sua edição de julho/agosto
de 1977, com o título: “Nosso jornal entrevista Chico Xavier”).
Diálogo Fraterno (*)
No exato momento em que as forças vivas da
família brasileira lembram o aniversário de cinqüenta anos de labor mediúnico
do nosso querido médium espírita Francisco Cândido Xavier a ser verificar em
julho próximo, é justo que recordemos nosso encontro com o citado médium, em
termos doutrinários, e isto no mês próximo passado.
Procuremos registrar aqui, com a maior
fidelidade possível, o conteúdo desse encontro, o diálogo que mantivemos, com
vistas ao mais perfeito conhecimento por parte de quantos se interessam pelo
assunto, assumindo nós, todavia, a responsabilidade do pensamento traduzido, a
fim de evitar aborrecimentos ao nosso querido médium.
Inicialmente, nosso encontro foi uma
resposta satisfatória a uma carta que lhe endereçamos em que fazíamos uma
apreciação crítica do movimento espírita em geral e do de unificação em
particular, confiando-lhe, assim, as nossas preocupações doutrinárias.
Suas palavras ainda ressoam em nossa
acústica doutrinária, convidando-nos a uma meditação, séria em torno do
Espiritismo que revive o Cristianismo primitivo em sua simplicidade e que tem
na máxima “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” a sua expressão máxima.
111 – O
Problema da “Elitização”
- Jarbas, amigo, precisamos conversar
desapaixonadamente sobre o nosso movimento. É preciso que nós, os espíritas;
compreendamos que não podemos nos distanciar do povo. É preciso fugir da
tendência à “elitização” no seio do movimento espírita. É necessário que os
dirigentes espíritas, principalmente os ligados aos órgãos unificadores
compreendam e sintam que o Espiritismo veio para o povo e com ele dialogar. É
indispensável que estudemos a Doutrina Espírita junto às massas, que amemos a
todos os companheiros, mas sobretudo, aos espíritas mais humildes sociais e
intelectualmente falando e delas nos aproximarmos com real espírito de compreensão
e fraternidade. Se não nos precavemos, daqui a pouco estaremos em nossas casas
espíritas apenas falando e explicando o Evangelho de Cristo, às pessoas
laureadas por títulos acadêmicos ou intelectuais e confrades de posição social
mais elevadas. Mais do que justo evitarmos isso. (repetiu várias vezes) a
“elitização” no Espiritismo, isto é, a formação do “espírito de cúpula”, com
evocação de infalibilidade, em nossas organizações.
112 – Suposta
Pureza Doutrinária
P - Então, caro Chico, o problema não é de
direção, ou, melhor diríamos, de administração espírita?
R – Não, o
problema não é de direção ou administração em si, pois precisamos administrar
até a nós mesmos, mas a maneira como a conduzem, isto é, a falta de maior aproximação
com irmãos socialmente menos favorecidos, que equivale à ausência de amor, presente
no excesso de rigorismo, de suposta pureza doutrinária, de formalismo por parte
daqueles que são responsáveis pelas nossas instituições; é a preocupação
excessiva com a parte material das instituições, com a manutenção, por exemplo,
de sócios contribuintes ao invés de sócios ou companheiros ligados pelos laços
do trabalho, da responsabilidade, da fraternidade legítima; é a preocupação com
o patrimônio material ao invés do espiritual e doutrinário; é a preocupação de
inverter o processo de maior difusão do Espiritismo fazendo-o partir de cima
para baixo, da elite intelectualizada para as massas, exigindo-se dos
companheiros em dificuldades materiais ou espirituais uma elevação ou um
crescimento, sem apoio dos que foram chamados pela Doutrina Espírita a fim de ampará-los
na formação gradativa.
113 – Verdadeira
Pureza Doutrinária
Naquele instante, recordamos que Allan
Kardec, deixou bem claro na introdução ao Livro dos Espíritos que o caminho da
Nova Revelação será de baixo para cima, das massas para as elites, porque
“quando as idéias espíritas forem aceitas pelas massas, os sábios se renderão à
evidência”.
Recordou, ainda, o dever imperioso de
todos nós de evitar a deturpação da mensagem dos Espíritos, como aconteceu com
o Cristianismo oficializado por Constantino. A Doutrina dos Espíritos veio para
restaurar o Cristianismo, mas na sua feição evangélica primitiva, entendendo-se
que em
Espiritismo Evangélico é respeitar e auxiliar, amparar e
elevar sempre, entendo-se que os melhor e os mais cultos são indicados a se
fazerem apoio de seus irmãos em condições difíceis para que se alteiem ao nível
dos melhores e mais habilitados ao progresso.
Aí está a essência de nossa conversação.
Nesse sentido, ressaltou muito bem o nosso
irmão Salvador Gentile em Anuário Espírita-1977 :
“Por mais respeitáveis os títulos
acadêmicos que detenhamos, não hesitemos em nos confundir na multidão para
aprender a viver, com ela, a grande mensagem”.
Depois deste diálogo, penetramos mais
profundamente nas palavras do Dr. Bezerra de Menezes em “Unificação, Serviço
Urgente mas não apressado”:
“É indispensável manter o Espiritismo,
qual foi entregue pelos mensageiros divinos a Allan Kardec, sem compromissos
políticos, sem profissionalismo religioso, sem personalismos deprimentes, sem
pruridos de conquista a poderes terrestres transitórios”.
“Respeito a todas as criaturas,
discriminações, evidências individuais, injustificáveis privilégios,
imunidades, prioridades”.
“Amor de Jesus sobre todos, verdade de
Kardec, para todos”.
Em essência esse pensamento é repetido
pelo mesmo Espírito em mensagem que vai publicada noutro local de “O Triângulo
Espírita”.
Emmanuel também é incisivo em “Aliança
Espírita”.
Educarás ajudando e unirás compreendendo.
Jesus não nos chamou para exercer a função
de palmatórias na instituição universal do Evangelho, e, sim, foi categórico ao
afirmar: “Os meus discípulos serão conhecidos por muito de amarem”.
Cumpre-nos, dessa forma, meditar melhor a
mensagem dos Espíritos, mas, sobretudo, aplica-la em nosso movimento espírita,
em nossas casas espíritas, e, principalmente, em nosso movimento de Unificação,
aplicação esta que vem sendo a tônica de toda a vida de nosso médium Chico
Xavier. Aliás, ninguém mais do que ele viveu e vive o verdadeiro sentido da
unificação e que é o retrato acima.
(* -Entrevista concedida ao Dr. Jarbas Leone Varanda e publicada
no jornal uberabense: “Um encontro fraterno e uma Mensagem aos espíritas
brasileiros”).
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