sábado, 24 de outubro de 2015

Fatos sobre Waldo Vieira que não podemos esquecer


Lazaro Freire - www.voadores.com.br

1 ) Waldo Vieira saia com amigos, contava piadas, era acessível e sociável. Com o tempo, foi deixando de fazê-lo, e se tornando mais radical.

2 ) Waldo Vieira tinha mente aberta, universalista. Com o tempo, sem perceber, foi se fechando mais e mais dentro de seu próprio sistema, ainda que baseado em suas experiências pessoais.

3 ) Waldo Vieira tinha sólidas críticas às estruturas das religiões, que conseguem adeptos através da culpa, da supressão do riso e festividades, da repressão aos questionamentos à própria instituição, da necessidade de frequência rigorosa (é pecado faltar ) e do terror baseado em possessões ou assédios a quem viva uma vida diferente dos preceitos ditados por papas e gurus. Posteriormente e sem perceber, ele próprio criou, palestra a palestra, um rigoroso código de conduta para seus adeptos, que não por acaso os distanciava mais e mais da normalidade e os aproximava da conduta do próprio legislador, utilizando sem querer TODOS os mecanismos das religiões que criticou.

4 ) Waldo Vieira tinha dúvidas, que o levava a pesquisas inéditas, e fazia todos pesquisarem com ele. Com o tempo, foi as substituindo por certezas absolutas que presumem a perfeição, pelo menos quando comparada aos demais mortais. E sem dúvidas, só lhe restava compilar o que já sabia, reunindo adeptos para aprender o que deveria praticar. Sem perceber, deixou morrer as dúvidas filosóficas que fomentam o questionamento e discernimento, e passou entrar no terreno das certezas (dogmas ), que só pode ser ocupado pela religiâo ou pela ciência. Não por acaso, foi buscar caráter científico para mascarar a religião que criou sem querer.

5 ) Waldo Vieira tinha um discurso saudável sobre a sexualidade de cada um. Com o tempo, sua prática ou falta dela passou a determinar, inclusive em livros, o padrão de normalidade dos seus discípulos, chegando a ponto de registrar como "experimento projeciológico" as anotações e justificativas das "duplas evolutivas" que não praticassem o sexo dentro da frequência copiada do guru.

6 ) Waldo Vieira tinha um projeto expansivo, de alcance universal, onde valiam mais seus conceitos aplicados do que o espelhamento de seu comportamento. Com o tempo, a verdadeira prática de sua conscienciologia passou a ser mais e mais dependente do nicho onde ele estava, de seu instituto e dos que o circundavam, sem perceber as irreparáveis perdas que isso trazia de inúmeros companheiros de jornada que adoravam seu trabalho e colaboravam com ele, mas nem por isso queriam ou precisariam viver de acordo com os preceitos ditados pelo fundador. E mais e mais, sua religião passou a ser a dos homens tristes, ou a dos que, tremendamente reprimido pelos pais na infância, se identificavam com a presença de um novo repressor, a lhes dizer a cada encontro ou experimento tudo aquilo que NÃO PODEM fazer.

7 ) Waldo Vieira era bem razoável em muitas coisas, e tinha uma saudável contraparte feminina que, mal ou bem, cumpria um papel regulador. Mas após perder sua companheira e apoiadora, que suicidou-se jogando-se do prédio em meio a traições com discípulas, nunca mais foi o mesmo. Matou-se ela, mas quem morreu nas ruas de Copacabana foi, sem dúvida, um pedaço dele, que imediatamente começou a envelhecer, mesmo estabelecendo uma nova relação.

8 ) Waldo Vieira era bacana. Mas sem perceber, tornou-se um chato. Waldo Vieira era um questionador. Mas sem perceber, se tornou um pastor. Waldo Vieira levava as pessoas à liberdade. Mas sem perceber, conduziu os que ficaram, a uma nova repressão. Waldo Vieira vivia cercado de grandes amigos, livres, diferentes e sinceros. Mas, sem perceber, foi se isolando, ainda que sua solidão fosse acompanhada de milhares que diziam sim. Waldo Vieira, sem perceber, fazia filosofia. Mas, talvez percebendo, preferiu construir uma nova e isolada religião.


E é por essas e outras que um grande amigo meu, que também o conheceu há décadas atrás, costuma dizer brincando: Làzaro, tomara que a gente nunca fique velho, e que os amparadores nos levem antes de caducarmos e começarmos a falar merda, virarmos fundamentalistas e impormos (sem querer ) uma nova religião baseada nas "certezas" e na repressão. E ele me pedia também, há anos atrás, para que se um dia se tornasse assim, pelo amor de deus que EU não deixasse de LHE dar um toque, embora ele soubesse que dificilmente iria querer escutar. Por isso o pedido de desencarnar, para não corromper tudo de bom que já houvesse feito, já que lembram mais de nós pelo que produzimos perto do fim.

Mas estou contando tudo apenas porque gostaria de pedir a vocês o mesmo que meu amigo me pediu há uns dez anos atrás. Porque isso tudo VALE PARA MIM TAMBÈM. Se um dia eu fizer o mesmo, e começar a envelher na velhice, ao contrário do que se deve fazer nela, me avisem também.

"Oh, Deus, permita que eu esteja VIVO no momento de minha morte" (Winnicott )

Lazaro Freire (08/01/2010)

Um ex-adolescente que juntava trocados de mesada e shows em BH para ir regularmente ao Rio só para ouvir algumas palestras do Waldo Vieira. Até um dia em que tomou coragem, foi conversar mais de perto com ele, e ao fazer uma pergunta procedente levou um grande esporro, me lembrando na frente dos demais que essa resposta já estava no livro dele, que era bem caro para os meus padrões. Percebi que se tratava de uma Bíblia em potencia, que já tinha um pastor em ato. E olha que nem havia ainda o livro branco...

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